quinta-feira, 16 de abril de 2009

Dona Odete vê fantasmas

“Eu ouvi alguém bater na janela. Tinha acabado de apagar todas as luzes do prédio. Resolvi subir e ver se ninguém havia entrado durante o expediente e ficado preso. Quando cheguei no segundo andar todas as luzes se acenderam. Meus braços ficaram arrepiados”, narrava dona Odete, na tarde de quarta-feira. Estavamos dentro do ônibus, lotado, chamado de expresso que leva as pessoas ao bairro Colina Azul II, em Aparecida de Goiânia. Eram 16h40 quando aquela contadora de história conseguiu prender a atenção de todos os passageiros que estavam a sua volta.

Eu estava a uma cadeira de distância dela. Alegre, contou que ontem não trabalharia a noite, pois havia substituído no período da tarde uma colega que levaria o filho ao médico. Antes disse que era perigoso carregar bolsa, sitpass e qualquer coisa de valor nas ruas da grande Goiânia. “ No centro, na Praça Cívica, tem uma gangue que tem preferência por roubar sitpass. As vezes levam bolsas também. São dois homens e uma mulher. Percorrem toda a praça a procura de desavisados que deixem as bolsas ou o pass a mostra,” reclamava Odete para a colega.
Ela parou de carregar bolsa. A escova de cabelo e a maquiagem ficavam no trabalho e a roupa que sempre trocava, agora, carregava numa sacolinha de supermercado. Assim, Odete se sentia segura contra os bandidos. Narrava suas histórias enquanto reparava na minha bolsa. Não disse, mas parecia me achar uma tonta e uma presa fácil para gangue da Praça Cívica.

Enquanto ela me dava as dicas, como me portar como passageira de ônibus em tempos de violência, eu prestava toda a atenção do mundo sem contestar nada, apenas perguntando e tentando tirar dela mais informações. A história do fantasma me interessou.

- Onde a senhora trabalha?
- Na Affego.
- Como surgiram essas histórias de fantasmas?
- Ah minha filha. Muitos fiscais morreram ali mesmo no prédio. E as pessoas dizem que a noite eles voltam para trabalhar. Todo mundo tem uma história assim para contar.
- Onde fica a Affego?
- Ali no centro, próximo a Praça Cívica. Eu trabalho a noite. Não tenho medo de fantasmas já me acostumei com eles. Para não ouvi-los trabalho. É só parar de trabalhar que os barulhos começam.
Quando é um funcionário novato ela diz que antes dos barulhos começarem “eles” tocam a campainha. A pessoa vai atender e descobre que não tem ninguém. Tocam de novo e o incrédulo começa a acreditar em fantasmas. O dia em que “eles” estão muito animados Odete diz que se agarra ao nome do senhor. Pede para Jesus afastar o que tiver ali. Como é evangélica ela não crê que sejam almas penadas e sim obra do demônio. Para ela fantasmas não existem. Mas mesmo assim ela conta que conversa com 'eles' e diz:

- Olha eu trabalho aqui. Estou cuidando de tudo para vocês. Não se preocupem.

Falando sobre a violência. Ela ainda acrescentou que o bairro em que mora é muito perigoso. Quando chega em casa altas horas da noite, sozinha, desce do ponto e segue orando pelas ruas até chegar ao destino.

- Tchau dona Odete. Boa viagem.

Cheguei ao meu ponto, desci do ônibus e deixei aquela contadora de histórias maravilhosa ir embora, sem que eu pegasse com ela seu telefone. Daria um belo perfil.

3 comentários:

Maria Cristina disse...

Eu acho que são fastasmas de chefes, pois quando ela para de trabalhar eles atormentam! kkkk

bjocas

ps: já fui vítima da gangue do sitpass

Rodrigo Alves disse...

Não sei se vc se deu conta, mas ela já rendeu um otimo perfil...

Deire Assis disse...

qtas histórias estão sempre a nossa volta... belo texto, ana!

e seu blog está mto bonito!

bjo.