sexta-feira, 29 de julho de 2011

Doce Paradoxo

Por Renato Cirino
As pessoas, em sua essência, são verdadeiros paradoxos bípedes. Carregam pelo mundo suas contradições e anseios volúveis. Não que esta abordagem sobre paradoxo seja pejorativa, pelo contrário, o paradoxo aqui abordado se baseia na vontade e nos desejos de mudar, assim que necessário ou quando disparar vontade. Observa-se tal comportamento, o de mudar, nas experiências e vivências do cotidiano, exatamente àquelas em que não se consegue, em sua grande maioria, realizar uma análise autocrítica. Aliás, não é feita ao menos a auto-análise, até porque tais situações não demandam obrigatoriamente atenção suficiente para um comportamento tão criterioso. Por isso essas mudanças acontecem quase que automaticamente. Neste caso, os paradoxos funcionam como um gatilho que engendra processos que dão origem a necessidades ou pelo menos desejos, muitas vezes intuitivos, de fazer outras escolhas.

Fugindo um pouco da rigidez impessoal do parágrafo acima, mas mantendo a linha de pensamento, gostaria de citar um caso bem particular sobre paradoxo. Faço aniversário dia 9 de julho desde o ano de 1983, ainda bem. Sendo assim, durante esses 28 anos, manifestei alguns interesses, como por videogames, lamber bateria de nove volts e batata palha. Peculiares ou comuns, estes interesses se relacionavam justamente pelo fato de serem meus. Com a popularização das redes sociais digitais estes interesses se tornaram públicos, pois passaram a ser compartilhados além das rodas de conversa, caindo assim na vastidão do mundo virtual, um espaço cheio de pleonasmos informacionais (reparem nos títulos das comunidades do Orkut), onde as informações pecam pela característica efêmera que adquirem.

Nada muito sério, mas confesso que doces nunca me chamaram atenção ou até mesmo fizeram parte da lista de comidas que eu mais gosto. Para ser mais sincero, conto que doce já foi motivo de conflito entre eu e minha família, tudo porque eu não queria comer um encorpado e nada dietético sorvete de creme. Diz-se que a indiferença é pior que o ódio, se é que é possível mensurar tais substantivos, mas sem juízo de valor, não me interesso muito por doce, até como, mas não me interesso. Foi então que em meu aniversário neste ano me deparei com um de meus paradoxos. Entre os presentes que carinhosamente ganhei, me deparo com uma delicada caixa de mini tortinhas ou mini cakes, como são chamados. O laço matematicamente ajustado unia a tampa transparente à base da caixa. Uma tentação estética aos olhos que imediatamente chamavam para si a responsabilidade de degustá-los visualmente, sem freios ou pré-conceitos, numa cadeia de atos sensoriais. O nariz se encantou, a boca estremeceu e o estômago desejou, exigiu. Obedeci-o.

Mesmo com as limitações da unidimensionalidade da escrita, os adjetivos cumprem bem o papel na tentativa de explicar o que me aconteceu. O conflito com um passado dietético se rompeu a partir do momento que senti a textura do cheesecake, um doce com recheio à base de bolachas, queijo creme e ovos e com uma cobertura de fruta. Tamanho era o encantamento, que me fez regressar à sensação dos anos iniciais de vida, quando me surpreendia ao experimentar pela primeira vez o sabor das coisas. E era, de fato, a primeira vez que experimentava aquelas coloridas mini tortas. Três salves se fizeram obrigatórios. O primeiro salve para a perfeita alquimia entre componentes tão distintos. O segundo salve para Ana Carolina que preparou guloseimas tão gostosas. E o terceiro salve novamente para Ana, pela bondade de me permitir provar um doce divinamente requintado.

Com um argumento adocicado, os conflitos gerados pelos nossos paradoxos chegam ao ponto de serem desejáveis. A saída da zona de conforto impulsionada pelo desejo de mudança é bem apaziguadora quando temos como incentivo uma mini torta tentadora. Com uma opção dessas até me arrisco a romper outros preconceitos, mesmo que seja comer doce de jiló com calda de pequi. Ainda bem que alguém teve a sabedoria de confeccionar incentivos tão encorajadores como essas pequenas tortas que insistem em lambuzar de gula os paladares alheios de bípedes, que ansiosamente aguardavam por um incentivo para viver e assumir seus paradoxos.



quarta-feira, 27 de julho de 2011

E o delicioso Tempo curou o que parecia não ter solução...

domingo, 17 de julho de 2011

Onde ir

Intensidade não me falta, aliás até sobra. Por isto que o agora é a coisa mais preciosa do universo, mesmo sabendo que a dor é inevitável, seja ela imaginária ou real. E este coração contém todos os antídotos do mundo, independente da força, das horas ou da distância. 
Quando era começo precisava acreditar, quando já era o fim também me faltou acreditar. Afinal todos aqueles dias existiram ou foram apenas fantasias? E assim eu fui criando, criando fantasias sóbrias de histórias cada vez menos reais. São mundos simpáticos para onde eu fugi,  para onde eu apenas consegui desejar fugir. Podia passar horas no sol, naquele pedaço de mar ou tomando banho de chuva. Um banho de chuva a dois, um banho de chuva a beira mar. E entre um delírio e outro meu mundo se cobriu de felicidade. 
Enquanto estava só o céu se encheu de borboletas amarelas, deitei naquelas águas e me deixei levar. Lindas elas, as borboletas, bailavam, dançavam e me convidavam a seguir. Certo? Errado? Nada importava porque afinal aqueles dias eram apenas dias de fantasias sóbrias. Eu devia ter perdido os voos, as estações e ficado.Transformado aquele cenário no meu mundo e deixado de ser apenas uma figurante daquelas histórias imaginárias, devia ter roubado todos aqueles personagens para mim.
E naquele carnaval de pessoas perdi o fôlego e me empanturrei de sonhos...    
E assim o mundo mudou, já não era mais o mesmo... 
Tum ta ta ta... tum tarara! 
E um buraco negro apelidado, gentilmente, de expectativas, nasceu pequeno. Ele era ardiloso e se alimentava sozinho. Primeiro romanceava palavras, em seguida se embriagava com encontros, depois ... Ah, nunca teve depois, em nenhuma das histórias....
Sou especialista em alimentar fantasmas. E o coração parece com um casarão assombrado, cheio de não-histórias e povoado de muita imaginação. Onde nenhum dos personagens tem culpa.
E o lugar é tão lindo e ao mesmo tempo tão escuro, que eu me perdi, esqueci para onde ir.  Quem sou eu? Eu que sempre soube esta resposta, agora não sei... 
Quero apenas dançar na praia com as minhas borboletas...
Porque as escolhas são maiores que uma paixão mágica ou um amor de carnaval. 
"Não me deixe só ... Que eu tenho medo do escuro, tenho medo do inseguro e dos fantasmas da minha voz." ( Vanessa da Mata)

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Reticências infinitas

São tantas as interrogações, as exclamações, os pontos finais, o ponto e vírgula, a vírgula e as reticências... Ahhh! As vezes vejo aquelas nuvens como no gibi, em uma caixa de texto com frases prontas e imagens do passado.  Suspiro e mudo as regras, porque nem sempre é fácil, aliás, quase sempre é difícil, porque não sou dona de todos os personagens, sou apenas protagonista deste meu espaço e é impossível usar borrachas ou corretivos nas frases já construídas. Eu posso no máximo me arrepender  e chorar e sorrir das minhas escolhas, mas no fundo são elas que fizeram este conjunto tão belo de agora. 
Sabe, tenho aquelas histórias das quais os personagens gostam das reticências e sempre as guardo para acordar e lembrar que é preciso, correr, nadar, respirar, cozinhar, escrever e viver. As guardo porque não sou chegada em pontos finais, aliás, acho que eles nem existem e enfim melhor colocar um até logo, ou até breve no final de todas as frases. O meu estoque das reticências precisa mesmo é ser infinito. 

terça-feira, 12 de julho de 2011

Paixão

Eu me apaixonei por um sonho. De tal forma que criei planos e montei expectativas sem me dar conta que estava fazendo isto. Fui pega de surpresa chorando dentro de um metro e torcendo para que aquela sensação de encantamento fosse embora, torcendo para que a minha premonição estivesse errada e o sonho mais uma vez se materializasse na minha frente.
A lembrança viva dele era uma forma de acreditar em milagres, encantos e principalmente em mágica. Era como se a lembrança de um rosto e de uma voz fosse mais importante que o conjunto de histórias de uma vida. Mas, em São Paulo, acordei sabendo que nada daquilo era real, eu não era real, ele era parte de um encantamento surreal e a única coisa realmente grande existente naquela cidade e entre nós eram as distâncias.
Aqui, onde tudo começou, sinto saudade de um papo leve enquanto esperávamos para embarcamos para os nossos destinos.
É, eu me apaixonei e estou aqui tentando desapaixonar...

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Catalisador de sabores

"A comida é um catalisador e não o produto final". Li a frase no livro Aprendiz de Cozinheiro e me dei conta que sempre que entrei na cozinha tinha uma intensão maior do que apenas a comida, que é simbolicamente o produto final. Quando entro na cozinha é como se a fusão entre os ingredientes contivessem uma parte da minha essência.É simples, quando finalizo cada receita não quero apenas a beleza dele, quero o melhor sabor e sentir uma entrega real em cada novo prato criado. Foi assim ontem com uma galinhada com pequi. Ela não tinha nada além do usual, mas tinha tudo de entrega.
No prato existia a lembrança das férias, os dias na praia, o sabor da receita de uma tia querida e acima de tudo muita dedicação. Os ingredientes precisam ser os melhores, mas a entrega tem que ser real. E assim, por volta das 10 horas, minha cozinha se enche de perfume... Perfume de doce, perfume de arroz, de feijão.
E o produto final é a alegria da família reunida a mesa.