segunda-feira, 11 de maio de 2009

A anaconda de Mambaí



O vacilo de uma garota, de 12 anos, pois fim ao mistério que durou 1 ano e 9 meses, nos arredores do Rio Buriti próximo a cidade de Mambaí, no nordeste goiano, distante 503 quilômetros de Goiânia. No dia 20 de julho de 2007 quando Edvá Florêncio de Barros, 35 anos, desapareceu surgiu a lenda de que ele teria sido engolido por uma sucuri de 8 a 9 metros. A menina, 12 e o tio estariam às margens do Rio quando a cobra apareceu e o arrastou para dentro d' água.

Quase 2 anos depois a sobrinha do desaparecido revelou a verdade durante uma conversa com a tia. Ela teria falado para a tia que tinha medo do irmão porque ele poderia fazer com ela o mesmo que havia feito com Edvá Florêncio. As palavras foram poucas mas suficientes para que a tia desconfiasse de algo errado e denunciasse o sobrinho a polícia. O caso que estava praticamente arquivado foi reaberto pela Polícia Civil na região. O inquérito de responsabilidade do delegado Eduardo José do Prado, titular de Alvorada do Norte, constava a história da cobra e as buscas incansáveis de bombeiros pelas cobras. O delegado explicou que o crime não teve como ser investigado porque a principal testemunha havia mudado do assentamento. Eles tinha uma informação de que os irmãos Florêncio tinham ido morar no interior da Bahia. O casal de irmãos ficaram 'escondidos' até início deste ano. Durante este tempo a história da 'anaconda de Mambaí' ganhou dimensões de lenda interferindo inclusive na economia do município. “Pescadores e turistas sumiram da região com medo da cobra”, relatou Prado.

FIM DO MISTÉRIO

Na semana passada a menina foi intimada para falar sobre o desaparecimento do tio. Na delegacia a garota de feições delicadas, assustada, magra e ainda com um ar de doente, contou o segredo que escondeu durante tanto tempo. Segundo o delegado ela lembrou com detalhes do dia em que o irmão Paulo Florêncio de Barros, 22 anos, assassinou o tio. Era um dia normal na vida da família. A mãe foi para casa de um vizinho do assentamento e os garotos ficaram com o tio. “Sozinhos” tio e sobrinhos se reuniram para cascar coquinhos. Em algum momento Edvá e Paulo ficaram sozinho. A sobrinha que estava no meio do mato só ouviu um barulho seco e voltou para ver o que estava ocorrendo. Ela viu o tio caído no chão, já morto. Edvá havia levado golpes de machado. A menina estava perplexa com a visão da morte. O irmão Paulo teve tempo de pegar as mãos da garota e colocar sobre o coração do tio, para ela ter certeza que ele estava morto. Ela lembra que o irmão falou que ali estavam as digitais dela e por isso a garota poderia ser presa por ter assassinado o tio.

Assim, Paulo Florêncio começou a usar a irmã para esconder o homicídio. Ele montou toda a história da cobra assassina. A cena do crime foi montada meticulosamente pelo garoto. “Colocou uma das chinelas do tio às margens do rio, outra dentro da água junto com um boné e ainda fez uma trilha ao redor do local, para simular um corpo sendo arrastado”, disse o delegado. A menina contou repetitivamente a história da sucuri para os moradores, a Polícia Militar e os Bombeiros de Posse, que tentaram localizar a cobra gigante. A história na época ganhou as páginas do jornais goianos que se basearam nos relatos do bombeiros. As buscas não deram em nada, nem sinais da execução foram encontrados na região. Dois anos depois uma conversa inocente entre tia e sobrinha levou a elucidação do crime.


A PRISÃO

Na sexta-feira, 8, agentes da Polícia Civil do nordeste goiano comandadas pelos delegados Eduardo Prado e André Fernandes prenderam Paulo Florêncio de Barros que confessou o crime. Durante o depoimento ele contou a polícia que matou o tio porque nutria contra o familiar um intenso ódio desde criança. Nas palavas do garoto Edvá seria violento com a família. O rapaz contou que o tio batia na mãe de Paulo com chicote e fazia o mesmo com os avos do garoto e ele ainda abusava sexualmente da sobrinha que presenciou o crime.


Ele repetiu parte da história que a irmã havia contado a polícia. Paulo esclareceu que no dia do crime escondeu o corpo dentro de uma grota, antes de montar a cena da cobra. Paulo Florêncio explicou ao delegado que para que a história da cobra tivesse credibilidade usou a irmãzinha, na época com 10 anos. Ele deixou a irmã sozinha as margens do Rio Buriti. Ela teria que aparecer depois de algum tempo na casa de uma tia deles contando a história da sucuri. Quando Paulo estava no local combinado a menina apareceu gritando e contando a fantástica história da sucuri. Os moradores do assentamento acionaram a PM e os bombeiros foram chamados em seguida. Ninguém desconfiou da cena do crime, pois não foram encontrados vestígios do assassinato.

Para ter certeza que Edvá tinha morrido Paulo ainda cortou o pescoço dele e dividiu o corpo em duas partes para ficar mais fácil do cadáver ser transportado. Com um carrinho de mão levou o corpo para uma grota. Quando as buscas do primeiro dia foram encerradas pelos bombeiros e polícia ele voltou a grota para buscar o corpo. Cavou um buraco de 4 metros ao lado da casa do tio e enterrou o corpo de cabeça para baixo. Durante os 7 dias de buscas ninguém descobriu nada sobre o homicídio.

Edvá Florêncio era o responsável legal pelos sobrinhos, pois a irmã, mãe dos garotos, tem uma deficiência mental que a impede de cuidar dos filhos. Com a morte dele a garota ficou sobre a responsabilidade de Paulo Florêncio que decidiu logo após o crime mudar com a irmã para o interior da Bahia. Sem testemunhas e pistas a polícia deixou o inquérito parado até que a história reapareceu na semana passada.

“As pessoas queriam uma explicação sobre a anaconda de Mambaí. Recebo e-mails até hoje perguntando se a história era real”, contou o delegado. Paulo Florêncio de Barros, 22 anos, está preso na cadeia pública de Simolândia e a irmã dele foi entregue a uma outra irmã filha do pai deles com outra mulher.

Obs: A foto é da casa de Edvá no assentamento PA em Mambaí.Local onde o corpo foi enterrado.

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