Na tarde, de julho, em que conheci o autista, surdo e mudo L. de 15 anos, em sua casa, ele estava em crise de agressividade e acompanhado da mãe que tinha um rosto triste e cansado. Saímos da redação umas 16h30 à procura do endereço, levamos cerca de 40 minutos para encontrar a pequena casa, de três cômodos - quarto, sala e cozinha. Lá, existia uma realidade inimaginável, de dor e sofrimento. Momentos que nos fazem questionar uma série de de porquês e no final saímos da experiência sem qualquer tipo de resposta palpável.
Fiquei com o coração cheio de amor, tristeza e dor. Sim, senti dor, pois foi a primeira vez que olhei diretamente para ela.

As vezes era amarrado dentro de casa, outras levado com camisa de força para uma emergência psiquiátrica, mas a grande verdade, depois de seis meses conhecendo aquela família, é que ninguém sabia ou conseguia cuidar do garoto.
Agora, em dezembro, tudo piorou...
_ Ana Carolina?
- Sim.
-Aqui é a Silvana que fui ao jornal para conseguir informações sobre o L.15 anos. Você lembra?
- Claro, você tem alguma novidade sobre ele?
- A mãe dele está internada no hospital, ainda não sei qual é.
Do que me lembro é que L.15 anos e especialmente sua mãe, mexeram demais comigo e dormi preocupada, naquela noite de quinta-feira. Acho que cheguei a sonhar com eles, mas não tenho certeza.
Ora, no outro dia, fui acordada por Silvana e a notícia era assustadora. J.M. 45 anos tinha sofrido uma parada cardíaca e estava respirando com ajuda de aparelhos, o motivo é que sua bronquite e seu estado de saúde delicado se agravaram. A mãe refém do destino e de seu filho doente, está (porque ela continua) internada, na UTI da Santa Casa.
Pelo que soube JM, estava com a pressão alta e com o coração apertado e angustiado por deixar as crianças sozinhas. Naquele dia mesmo, decidi que precisava ajuda-los e o único jeito, que conheço é escrevendo. Liguei para o meu editor, depois peguei o meu carro e fui para a pequena casa do Jardim América, onde os irmãos estavam sozinhos e sendo amparados pela nova amiga.
Desta vez, tive coragem e passei mais de duas horas dentro da casa da família. E sabe que senti um carinho e um amor puro, depois que L.15 anos, segurou minha mão direita, me cheirou, brincou com os meus sapatos e com a caneta que estava em minhas mãos. Ele é uma criança querendo colo e atenção.
Fiz a matéria, saiu no sábado no Jornal DAQUI. E durante a minha visita descobri que por hora, JM, L e D precisam que L estude, faça seu tratamento médico e tenha meios para ir até esses lugares.
L.15 anos precisa de um padrinho ou de padrinhos disposto a ajuda-lo com o tratamento que não deve ficar por menos de R$ 2 mil. JM precisa de paz para se recuperar e a resgatar sua cidadania. Viver com um salário mínimo não é fácil em condições normais e em casos especiais como este é quase impossível. A sorte da família é que existem pessoas generosas neste mundo.
2 comentários:
São lições de vida assim que ainda fazem o jornalismo fazer a pena né..
bjo Maria
Concordo com a Maria Cristina.
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