segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Uma sexta ao lado de L

 Na tarde, de julho, em que conheci o autista, surdo e mudo L. de 15 anos, em sua casa, ele estava em crise de agressividade e  acompanhado da mãe que tinha um rosto triste e cansado. Saímos da redação umas 16h30 à procura do endereço, levamos cerca de 40 minutos para encontrar a pequena casa, de três cômodos - quarto, sala e cozinha.  Lá, existia uma realidade inimaginável, de dor e sofrimento. Momentos que nos fazem questionar uma série de  de porquês e no final saímos da experiência sem qualquer tipo de resposta palpável.

Fiquei com o coração cheio de amor, tristeza e dor. Sim, senti dor, pois foi a primeira vez que olhei diretamente para ela. 
L.15 anos é gigante, moreno, agitado, melancólico, amável, tinha olheiras enormes, a boca constantemente aberta e uma mania de se auto flagelar. Enquanto conversava com  sua mãe, amparada pela grade do portão, pois tive muito medo da força do garoto, ele nos observava. L. batia na mãe constantemente, dia e noite, estivesse ela acordada ou dormindo, e no irmão de 12 anos.

As vezes era amarrado dentro de casa, outras levado com camisa de força para uma emergência psiquiátrica, mas a grande verdade, depois de seis meses conhecendo aquela família, é que ninguém sabia ou conseguia cuidar do garoto.
Agora, em dezembro, tudo piorou...

_ Ana Carolina?
- Sim.
-Aqui é a Silvana que fui ao jornal para conseguir informações sobre o L.15 anos. Você lembra?
- Claro, você tem alguma novidade sobre ele?
- A mãe dele está internada no hospital, ainda não sei qual é. 

Do que me lembro é que L.15 anos e especialmente sua mãe, mexeram demais comigo e dormi preocupada, naquela noite de quinta-feira. Acho que cheguei a sonhar com eles, mas não tenho certeza.

Ora, no outro dia, fui acordada por Silvana e a notícia era assustadora. J.M. 45 anos tinha  sofrido uma parada cardíaca e estava respirando com ajuda de aparelhos, o motivo é que sua bronquite e seu estado de saúde delicado se agravaram. A mãe refém do destino e de seu filho doente, está (porque ela continua) internada, na UTI da Santa Casa. 

Pelo que soube JM, estava com a pressão alta e com o coração apertado e angustiado por deixar as crianças sozinhas. Naquele dia mesmo, decidi que precisava ajuda-los e o único jeito, que conheço é escrevendo. Liguei para o meu editor, depois peguei o meu carro e fui para a pequena casa do Jardim América, onde os irmãos estavam sozinhos e sendo amparados pela nova amiga.

Desta vez, tive coragem e passei mais de duas horas dentro da casa da família. E sabe que senti um carinho e um amor puro, depois que L.15 anos, segurou minha mão direita, me cheirou, brincou com os meus sapatos e com a caneta que estava em minhas mãos.  Ele é uma criança querendo colo e atenção.

Fiz a matéria, saiu no sábado no Jornal DAQUI. E durante a minha visita descobri que por hora, JM, L e D precisam que L estude, faça seu tratamento médico e tenha meios para ir até esses lugares.
 L.15 anos precisa de um padrinho ou de padrinhos disposto a ajuda-lo com o tratamento que não deve ficar por menos de R$ 2 mil. JM precisa de paz para se recuperar e a resgatar sua cidadania. Viver com um salário mínimo não é fácil em condições normais e em casos especiais como este é quase impossível. A sorte da família é que existem pessoas generosas neste mundo.

  

2 comentários:

Anônimo disse...

São lições de vida assim que ainda fazem o jornalismo fazer a pena né..

bjo Maria

Lian Tai disse...

Concordo com a Maria Cristina.