quinta-feira, 14 de abril de 2011

Ponte aérea

Fui pega pelo meu olhar curioso. Não disfarcei, ouvi a conversa no telefone e ainda fiz aquela cara de interrogação. Meu lado repórter queria ouvir aquela história, saber quem aquela pessoa. Ele tinha passado o fim de semana em Goiânia, onde palestrou para um grupo de funcionários da Caixa Econômica Federal. Ah! A conversa que me chamou a atenção
- Oi, mamãe.
- Estou chegando em São Paulo.
- Vou jantar hoje com você e o papai. Sim, desta vez escolhi um hotel próximo a casa de vocês. 
- Não, vou cedo para Santos e de lá retorno para o aeroporto e a noite estarei de volta em Brasília.

Simpático, cabelos grisalhos, olhos claros, meio gordinho, baixo e muito falante. O Gilberto é consultor da Caixa Econômica, tem 45 anos e passa parte da vida dentro de quartos de hotéis. Os aviões ele costuma usar como sala de visitas. É... o consultor sentou ao meu lado e por quase duas horas, estive também ao lado da ex-mulher, do filho de 5 anos, da mãe e do pai. Além da pousadinha no meio do nada (que ainda não existe) e do restaurante, tudo em frente a uma praia deserta, com ares de paraíso.
Gilberto me contou o quanto é feliz viajando e ensinando as pessoas. Palestrar para ele é mais do que uma profissão é também um hobby, mas apesar de toda a paixão, ele tem planos de sair da ponte aérea e ter um lugar só dele, onde possa fincar raízes. Diz que não conseguiu conviver com a ex-mulher, uma mineira, com hábitos culturais, conforme o consultor, bem diferente dos dele. O filho é sua paixão, sempre que tem um tempinho é com o garoto e os pais que passa parte do tempo. Ele não acredita em coincidências e me diz que tudo na vida já estava programado. Como este nosso encontro de segunda-feira, dentro de um avião. Bem, programado ou não, serviu para pensar em um monte de coisas, entre elas sobre um dia 2 de março. Enquanto ele falava um filme passava em minha cabeça. Como quando perdi minha passagem aérea para Salvador por conta de uma distração minha. Será que foi mesmo distração? Providência? Ou apenas coincidência? Ah, não existe coincidência... Então foi o primeiro dia de segunda-feira. Entendeu?
Procuro agora não entender...

2 comentários:

Lian Tai disse...

Acho uma delícia que essas não-coincidências nos façam cruzar o caminho com pessoas diferentes e interessantes. A vida dos outros (e a nossa também) vista de perto sempre é uma coisa muito bonita!

Erika Lettry disse...

Eu acho tão difícil "deixar a vida me levar". Mas dizem que é muito bom...rs.