segunda-feira, 29 de junho de 2009

Pesadelos de Anita


Anita, uma garota cheia de complexos, tem sonhos loucos. Outro dia, ela me contou, que perdeu o ônibus e entrou no que vinha depois. E disse, com sua voz de menina, para que eu pensasse naquela viagem como um devaneio do seu inconsciente e que nele estão as chaves perdidas que dão acesso aos seus segredos: Complexo, medos, angústias e desejos.
É interessante poder contar o sufoco daquela noite. Rodou a catraca. Olhou para o assoalho do busão e lá estavam os três corpos. O assassino parecia vidrado. As vítimas estavam espalhadas: uma na vertical, outra na horizontal e uma inclinada. Um dos mortos havia sofrido mais, o assassino teve um grande prazer e o rasgou inteiro. Para a meia dúzia de passageiros do ônibus aquilo era natural, ninguém parecia desesperado para descer.
Anita precisava de um lugar para aguardar a chegada ao seu ponto. A espera parecia eterna e ao olhar pela janela notou que pegou o veículo errado. O caminho que percorria era completamente desconhecido da garota. Eram longos terrenos descampados e com ruas cheias de obras inacabadas. Anita se desesperava e ninguém parecia notar que pessoas estavam mortas. Ninguém parecia mesmo se importar.
Pouco tempo depois, uma jovem morena, barriguda, parecia grávida, encostou em Anita. Ela parecia necessitar das energias da menina e habilidosamente sugava suas energias. A morena tinha apenas um olhar gelado e fixo na nuca da garota.
Pontos e mais pontos passavam e nada do motorista parar. Ninguém parecia querer descer do ônibus, o assassino permanecia no fundo, com seu olhar de “desculpado”, e a luz de alerta acesa parecia não fazer a menor diferença para o motorista.
As horas passavam e Anita se desesperava, porque o ônibus entrava a cada segundo em lugares mais e mais desconhecidos (talvez aqueles lugares sobre os quais eu apenas escrevo). Depois de horas rodando sem destino o veículo começou a diminuir a velocidade, as portas se abriram e num movimento de “alívio” Anita pulou do carro ainda em movimento.
O ônibus fechou a porta e acelerou. Ela estava com as alças da bolsa pendurada no pescoço e num único grito: Droga! Aquela grávida levou a minha bolsa! A jovem de olhar intimidador e fixo havia cortado as alças da bolsa com a ajuda de uma tesoura. Ficou sem celular, sem dinheiro e estava agora no meio do descampado. Anita parecia se sentir perdida. Foi quando ela tomou consciência, e pensou: Isso é apenas um sonho é hora de acordar. Com uma única ordem ela fugiu do que parecia assustadoramente real.
Desde então Anita anda com medo de subir em ônibus. Acho que o inconsciente dela tá implorando pela carteira de motorista.

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