segunda-feira, 26 de julho de 2010

Costa da Mata Atlântica é uma viagem no tempo

* Matéria originalmente publicada no Jornal  O Popular
Imagem do sétimo andar
No Parque Balneário Hotel, entre as várias paisagens belíssimas que se vê da janela do sétimo andar na praia do Gonzaga, em Santos, o brilho da lua sobre o mar é uma daquelas cenas difícil de esquecer. E como ocorre quando nos achamos sozinhos, fora da rotina e bem próximo da natureza, os pensamentos ganham asas. E a minha imaginação me levou a pedalar e até correr pelos seis quilômetros do maior jardim de praia do mundo, registrado oficialmente pelo Guinness Book. Era madrugada em Santos, na Costa da Mata Atlântica, na nova Baixada Santista, e para o horário e o cansaço da viagem, naquele momento as forças só me permitiam imaginar e apreciar o que tinha do outro lado da janela. Os três dias na região reservavam a nós repórteres de turismo o “desbravamento” de Santos, São Vicente e Guarujá.
Vista do teleférico
Pela manhã a surpresa foi visitar o teleférico de São Vicente, a primeira cidade do Brasil, hoje com 323 mil habitantes. Depois de administrar o medo e conter a ansiedade restava apenas apreciar os 700 metros de subida, sendo 560 deles sobre uma região de mata atlântica intocável. Durante o percurso vi a cidade, com seus inúmeros ciclistas e carros, e a praia, quase vazia por causa do horário e a falta de sol. O teleférico leva o turista até o Morro do Vonturá, onde existem empresas especializadas em vôos de parapente e asa-delta. Ali é possível contratar profissionais para junto com eles realizar um vôo experimental. Foi frustrante não ter tido a sorte de ver homens voarem como pássaros sobre as praias de São Vicente.  
Como cidade, São Vicente tenta desesperadamente recuperar sua história que quase foi apagada pelo surto desenvolvimentista. A maioria das casas que existiam no início da construção do vilarejo foi destruída, o mesmo aconteceu com as construídas no século XIX e XX, no período do ciclo do café. Um dos destaques da visitar é a Biquinha de Anchieta, construída em 1553, com a vinda do jesuíta para o País. Conta à lenda que a água do local é milagrosa, por garantia decidi beber dela diretamente da fonte.
Depois de cumprir o roteiro histórico cultural, uma parada para o almoço era mesmo obrigatória, pois além da fome o cansaço já começava incomodar. O local escolhido foi um restaurante ao lado do Memorial 500 anos, Mirante Ilha Porchat, um projeto criado por Oscar Niemeyer cuja uma das pontas aponta para Brasília. A vista do local é deslumbrante e sem dúvida foi um bom ponto para despedir de São Vicente e seguir viagem, para a Ilha de Santo Amaro, onde fica Guarujá.
 História pelas ruas
O tour no Guarujá iniciou pelo bairro da Pitangueiras, andando algumas ruas, logo nos deparamos com dois pavilhões de vidro no canteiro central da Avenida Pugliese. E neles estavam expostos o Carro Fúnebre de Santos Dumont de 1924 e uma Maria Fumaça, construída nos Estados Unidos, que foi desativada 1956. O pai da aviação, Alberto Santos Dumont, cometeu suicídio em um quarto do Grande Hotel La Plage, em Guarujá, em 1932. O motivo, dizem teria sido uma profunda depressão causada pela constatação de que sua invenção, o avião, estava sendo usado para fins militares. Ele foi encontrado morto dentro pendurado no chuveiro, do banheiro do quarto onde estava hospedado. O carro exposto na cidade foi usado durante o cortejo fúnebre de Santos Dumont.
Na alma, os guarujaenses carregam uma hospitalidade insuperável, foi lá que conheci o Chico, um rapazote, estagiário da Secretaria de Turismo do Município e surfista amador. A história oficial ele podia até conhecer, mas as melhores são as não oficiais como a da dona Mariazinha das Flores, uma aposentada, que toma conta da locomotiva que está exposta na Avenida Pugliese. Chico contou que a locomotiva é quase uma paixão da Mariazinha e que por isso todos os dias ela troca as flores e passa as tardes dentro do pavilhão com a locomotiva. Na cidade também tem um senhor, conhecido como Pateli, que se veste de Santos Dumont vez ou outra é possível vê-lo próximo ao Carro fúnebre. Foi do Chico a ideia de pararmos para conhecermos alguns búfalos que vivem na região. Bem, se os tais animais existem, não sei. Mas o fazendeiro garantiu que estava quase na hora deles retornarem para o curral.
Visitamos a Fortaleza de Santo Amaro construída em 1584. Ela foi erguida próximo ao canal que dá acesso ao estuário do Porto de Santos, para evitar os ataques e saques de corsários às embarcações portuguesas que entravam e saiam do Brasil. Era uma fortaleza erguida para proteger a costa e que só foi desativada em 1911. Dentro da fortificação a casa de pólvora foi transformada em capela. Dentro da capela o turista pode visitar uma tela de 20 metros quadrados de mosaico de vidro, do artista plástico Manabu Mabe, chamado Vento Vermelho. A tela é curiosa. Nela não se vê apenas um desenho ou se tem apenas representação é uma obra que interage com o observador que a cada novo ângulo consegue ver uma outra  figura dentro da obra.
Hoje, dentro da fortaleza funcionam algumas oficinas da Universidade Católica do Guarujá, como uma de culinária. O forte é aberto para a visitação pública e a entrada é gratuita.  Depois do forte uma paradinha para observar o mar e tirar uma foto, no Morro da Campina, onde existe uma bela vista da praia.  
Santos é só alegria
Santos, com seus 418 mil habitantes, instintivamente, escolheu a exportação e o turismo como vocação. Voltando ao passado foi no século XIX que a cidade começou a se desenvolver com o processo de exportação do café, que usava o porto de Santos como plataforma de saída do produto para o restante do mundo. Desde então o porto só aumentou de importância, chegando a ter profissionais contratados para ganharem cerca de R$ 140 mil por mês apenas para manobrarem navios dentro do porto. Hoje, além do café existe o embarque de soja, açúcar e suco de laranja que saem de lá.
A melhor forma de conhecer o porto é de escuna. E contratando um desses passeios tudo pode ser uma verdadeira alegria: um pequeno barco, um bebê e turistas brasilienses abordos, bebidas, pagode e um belo sol. Ninguém enjoou e nem entrou no mar. O passeio simples de escuna passa pela Fortaleza da Barra, Praias, parada para mergulho, Orla de Santos, Canal do Porto, Iate Clube e porto de Santos. A duração é de 1h30 e 1h50, o embarque é feito na Ponte Edgar Perdigão, na Ponta da Praia, em Santos.
A cidade passa por uma nova fase de desenvolvimento e até 2014 serão investidos cerca de 5 bilhões de reais, em infra-estrututa. Quem vai a Santos sente as mudanças que um investimento deste porte leva a cidade. Vários pontos turísticos estão sendo restaurados.
Dentro do bonde
Fiquei impressionada com a quantidade de coisas para se fazer em família, seja elas com crianças, adolescentes ou apenas adultos. Uma das atrações é o aquário, onde existem várias espécies de peixes de água salgada e doce. As crianças perdem o fôlego olhando para os tubarões e se encantando com os simpáticos - leão marinho e pinguis.  Já que a família está reunida outra opção é conhecer o centro histórico abordo de um bonde. O veículo que era usado nos anos 1920 foi restaurado a partir da década de 1990 e hoje é um museu vivo que percorre o centro histórico de Santos. O passeio dura cerca de 50 minutos. Um guia conta um pouco da história dos bondes e de Santos.
 No centro histórico a Bolsa do Café é uma para quase que obrigatória, pois além de conhecer a história do café, lá é possível saborear um dos melhores cafés do país.
A melhor parte do passeio ficou reservada para o final. Agora que o Santos voltou a ser um time da moda, depois de vencer o Campeonato Brasileiro de 2009 e o paulista 2010, uma parada na Vila Belmiro é de emocionar até quem não gosta de futebol. Não sou fanática por bola, mas o Memorial das Conquistas do Santos Futebol Clube me deixou até com vontade de virar torcedora, daquelas bem fanáticas, afinal ali está um pouquinho da história do rei Pelé.
 A visita a vila pode incluir até uma ida ao vestiário do Santos, onde até hoje existe o armário do Pelé que continua trancado desde a última vez que ele o usou.  Para complementar pisar no gramado e sentar no banco dos reservas do time de Neymar, Ganso e Robinho são uma dessas experiências que não tem preço.

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