sábado, 7 de agosto de 2010

O melhor bacalhau do universo

Minha vó, Dona Verinha, sentada no sofá que ela dividia com meu avô.


A casa da minha vó tem cheiro e gosto de bacalhau na primeira semana de agosto. Ainda é possível ouvir o barulho das crianças correndo pela casa e meu avô gritando: "Cuidado com a escada!". Ainda consigo ve-lo sentando, em uma cadeira próxima ao armário da sala de jantar, esperando todas as visitas se servirem para só depois fazer o seu prato.

Meu avô, Nelson Guimarães, eu, e minha avó
Vejo seu olhar de reprovação para a nossa mania de pescar o bacalhau na panela, seu sorriso espontâneo e sua vocação para fotografo. Em dias de foto, todos os sobrinhos e netos viravam assistentes de produção. Como? Os adolescentes ficavam encarregados da iluminação para as fotos e a família eram seus modelos. Bastava ele se encantar por um sorriso que eram clicks e mais clicks, na outra semana todo mundo recebia um porta-retrato com a fotografia tirada por ele.
 Lembro da satisfação do seu Nelson Guimarães, em receber os amigos, da alegria em servi a todos o  melhor prato do mundo, a bacalhoada da Dona Verinha, minha vó. As pessoas se reuniam, no aniversário dele, no quinto dia do mês de agosto, para comerem a famosa bacalhoada portuguesa com bananas nanicas da vovó. Tal prato tem um incrível sabor de infância e aroma de reunião de família. 
É por isso que a bacalhoada, nesta época do ano, tem gosto de saudade boa.
 Aprendi com minha vó que a bacalhoada é feita com azeitonas pretas- roubadas momentos antes de irem para panela-, com azeite galo, com couve, batatas, cebolas e muito bacalhau. É feita com amor de uma união de 50 anos, com o carinho de uma família de três filhos, quatro netas, um neto e dois bisnetos. É feita por amor e saudade, servida na sexta-feira da paixão e nos aniversários do meu avô. 
Já são seis anos sem bacalhau em agosto. Tempo este que o cantinho direito do sofá da sala, ao lado da minha vó, fica vázio. Período que a Globo News deixou de ser o único canal da televisão.
Meu pai, Alessandra, tia Maria Eugênia, Vovó e Valéria
Semana passada dona Verinha disse que meu avô está sempre ao meu lado, que até hoje somos cúmplices dos sonhos que tivemos juntos. 


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