segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Hoje

É impossível não me iludir. Entre uma ilusão e um punhado de desilusões ainda preciso recorrer aos meus pincéis e tintas para pintar novos caminhos, pincéis para apagar o que não serve mais. E quando tudo é menos concreto e sinto que posso desistir  retomo a realidade na sala do meu médico, agora a cada seis meses. 
Desta última vez falamos sobre amores e ele me saiu com essa: "Carol, você está mais linda do que quando a conheci. Mas ainda acho que está precisando de um amor. Ter alguém não apenas pelo sexo e sim para compartilhar a vida e dar sentido a tudo isso aqui".  
Meu médico conhece todos os dias pessoas que estão morrendo e outras tantas que estão com medo de morrer e por isso acaba vendo a vida de uma forma mais poética. E talvez por isso com muito mais sentido do que para nós.

Foi logo depois do carnaval de 2007 que descobri o nódulo na minha mama esquerda. Quinze dias depois estava na mesa de cirurgia e retirei a pedra que continha em si um risco pequeno de câncer. Não era câncer. Era apenas uma providência para que eu pudesse repensar os meus caminhos, as minhas histórias e as pessoas que queria ao meu lado. Joguei tanta coisa fora neste período e expulsei outras tantas. Um ou dois meses depois da cirurgia me bastava apenas viver o hoje e tinha que ser intensamente. A intensidade foi tanta que me chamaram a atenção no trabalho, por eu ser muito entusiasmada. Foi um dos melhores anos da minha vida. Retornei ao Nordeste depois de 10 anos e ver a praia e o mar novamente me fizeram chorar de alegria. E perceber o quanto é sutil essa definição de estar e ser feliz. Naquele pequeno instante tive a certeza que era uma mulher livre, plena e feliz. Quando fecho os olhos ainda sinto aquela onda de corrente do bem passando pela minha alma.

Sempre que retorno ao consultório do doutor Marcos e vejo seu sorriso apaixonado pela vida e por cada paciente que ali entra, lembro que sempre é possível ser feliz. Estou sentindo a onda de entusiasmo se aproximar e quero entrar nela, quero transforma o que não serve mais e criar novos significados para as coisas gastas. Então, por hora, me basta viver o hoje.

2 comentários:

Maria Cristina disse...

Lindo o texto Ana... também quero me sentir plena assim.. Ontem te dei o bolo né?! É que a festa antes foi boa e exagerei um pouquinho rs bjoss

Lian Tai disse...

Coisa rara hoje em dia um médico desses, que cuida dos assuntos da alma...